Blog Tour – Entrevista com Ronize Aline, autora de “ANETE, NARIZ DE CHICLETE”
Continuando o Blog tour, hoje tenho uma entrevista com Ronize Aline, autora do livro infantil “Anete, nariz de chiclete. A entrevista é interessante, descontraída e com bastante informação e dicas para aspirantes a escritores .
1) Quando começou sua paixão pela escrita?
Desde que comecei a escrever. Sempre quis ser escritora, mas essa não é uma carreira a ser encarada como opção única quando se pensa em futuro (no Brasil, ainda são poucos os que podem viver exclusivamente de seus livros). Então busquei uma formação que envolvesse o ofício da escrita, e acabei me tornando jornalista – o caminho que muitos acabam trilhando para conseguirem fazer o que mais gostam: escrever. Paralelamente ao meu trabalho jornalístico, continuei fazendo literatura, de forma menos intensa do que gostaria por conta dos compromissos profissionais, mas apenas recentemente fui publicada comercialmete.
2)Que dificuldades encontraste pelo caminho, no início?
As dificuldades de um iniciante são muitas. A primeira, eu diria, é encontrar tempo para escrever, já que você precisa trabalhar em algo diverso para conseguir viver. A segunda é ter acesso a recursos e orientações – o que tem mudado bastante ultimamente. Fazer literatura sempre foi uma atividade solitária e o único retorno que costumava-se ter de seu trabalho era o “não” da editora, ou o tão esperado “sim”. Não havia curso superior para formar escritores, até porque durante um longo tempo preferiu-se fazer o elogio da inspiração em detrimento do trabalho árduo e constante que é escrever. Era comum defender que o escritor já nasce pronto, não precisa se aprimorar. De uns tempos para cá é que, felizmente, proliferaram cursos e oficinas de criação literária. Afinal, você pode ter aptidão para medicina, mas isso não significa que você pode sair por aí clinicando ou operando sem se preparar para isso. Com a literatura é a mesma coisa: você pode ter a aptidão para a escrita, mas é preciso lapidar esta aptidão. Eu tive o prazer de realizar várias oficinas literárias, e com ótimos escritores. Esse é um dos motivos pelos quais resolvi criar um blog sobre criação literária. A outra dificuldade de um escritor iniciante é conseguir mostrar seu trabalho. Muitas editoras sequer aceitam originais de autores inéditos, preferindo investir em quem já está no mercado. Assinar um contrato de publicação é outra dificuldade e, por último mas não menos importante, chegar até o leitor. Você já viu a quantidade de livros disponíveis no mercado? É preciso, muitas vezes, contar com a sorte para que alguém pegue exatamente o seu livro na estante de uma livraria. Por isso o trabalho de comunicação e marketing é tão importante.
3) Você é de Santa Catarina mas mora no Rio de Janeiro. Morar longe dos grandes centros dificulta a vida literária?
Durante muito tempo isso foi uma verdade absoluta, mas hoje em dia, nem tanto. As grandes editoras nacionais, e as filiais das estrangeiras, costumavam estar localizadas no Rio ou em São Paulo – com uma ou outra no Rio Grande do Sul. E os grandes eventos literários também aconteciam principalmente nesses locais – daí a chance de esbarrar com um editor ou um agente literário ficava reduzida. Pois o Rio Grande do Sul foi o primeiro estado a se liberar dessa hegemonia, a ponto de desenvolver um mercado literário próprio, com um público leitor assíduo para os autores locais e um dos mais importantes eventos literários do país: a Jornada Literária de Passo Fundo. Recentemente a matéria de capa do suplemento literário do jornal carioca O Globo, o caderno Prosa&Verso, destacou o mercado paranaense de autores e leitores, nos mesmos moldes do que já acontece no mercado gaúcho há muito tempo. E, após a Flip (Festa Literária Internacional de Parati), proliferaram outras festas no Brasil inteiro, abrindo possibilidades para uma troca maior entre os grandes autores e editoras e os autores e leitores locais. Então, atualmente, com essa proliferação de eventos e as novas tecnologias, estar longe do eixo Rio-São Paulo já não é tão problemático se você souber como se fazer presente.
4) Como é a vida de escritora?
Gostaria de dizer que é o paraíso…rs… Como mencionei antes, é preciso trabalhar com outras coisas para poder garantir o sustento, o que acaba reduzindo o tempo para a literatura. Sou também, além de jornalista free-lancer, tradutora, crítica literária, revisora e professora universitária – e mantenho o blog da Ronize Aline sobre criação literária. É preciso me desdobrar para dar conta disso, da casa, do marido e de um filho de cinco anos. Como resultado, tenho de abrir mão de muitas horas de sono. Mas o resultado chega em algum momento, e isso é recompensador.
5) Quantos livros você já escreveu? Fale um pouco sobre eles.
Prefiro falar sobre os que eu já publiquei…rs… Isso porque os primeiros livros de um escritor não costumam vir a público. E é normal. Eles são exercícios criativos, aprimoramento da escrita, para aquele que será considerado o primeiro texto “no ponto” para ser apresentado. Alguns escritores, inclusive, costumam renegar seu primeiro livro, e há os que chegam a excluí-lo de sua bibliografia por não considerarem-no à altura se seus escritos posteriores. Meu primeiro livro foi lançado em 2012, o infantil O dono da Lua, que havia sido selecionado em 2009 no Prêmio Monteiro Lobato de Literatura Infantil promovido pelo SESC-DF. Em 2013 ele foi selecionado pelo Governo do Estado de São Paulo para o programa Livro na Sala de Aula, e foi distribuído em todas as escolas de Ensino Fundamental do estado. O mesmo aconteceu com a Prefeitura de Contagem (MG). E também foi o vencedor do Prêmio Werner Klatt de Excelência Gráfica na categoria Livro Infantil. O livro conta a história de Nick, um menino muito curioso e insistente que, um dia, percebe que a Lua desapareceu do céu. Como ninguém dá crédito a ele, Nick resolve solucionar o mistério por conta própria, e segue em busca do dono da Lua. A minha segunda obra infantil foi lançado em dezembro último, e é justamente o livro que estou divulgando neste blog tour: Anete, nariz de chiclete. É a história de uma menina que adora mascar chiclete e fazer bolas imensas, que estouram em seu nariz e fazem seus coleguinhas caçoarem dela: “Olha a Anete, nariz de chiclete”. Só que um dia acontece algo inesperado: um passarinho resolve fazer seu ninho bem na ponta do nariz grudento de Anete e levá-la para uma viagem inesquecível. No ano passado foi lançada também uma coletânea francesa com contos para jovens de autores brasileiros chamada Nouvelles du Brésil. Tive o prazer de ter dois contos meus selecionados e divido o livro com autores como Pedro Bandeira, Sérgio Rodrigues, Ademir Pascale e Aline T.K.M.
6) Como surgiu a ideia para escrever Anete, nariz de chiclete?
As ideias costumam surgir das mais diversas formas e, muitas vezes, nos momentos mais estranhos. Normalmente tenho a ideia de uma trama e o título pode vir junto, naturalmente, ou exigir um processo mais demorado até alcançá-lo. Pois com Anete foi o contrário. Ouvi alguém falar Anete e, imediatamente, me ocorreu a rima: nariz de chiclete. Achei que seria um título perfeito para um livro infantil. Só faltava encontrar uma história para ele. E, aos poucos, as ideias foram surgindo, algumas aproveite, outras melhorei, outras joguei fora. Até chegar ao texto final.
7) Quais dica você daria para um aspirante a escritor?
Invista em sua carreira. Assim como em qualquer outra, é preciso aprender, aprimorar-se, melhorar a cada dia. Se você tem aptidão, aprenda a desenvolvê-la para que ela trabalhe a seu favor. Faça cursos e oficinas literárias, participe de eventos e feiras, aproveite os recursos digitais e pesquise, estude muito. Aprenda também sobre o mercado editorial, como funciona, o que fazer e o que não fazer. Aprenda a promover-se, a mostrar-se, a estar acessível. Felizmente estamos vivendo em uma época em que a tecnologia coloca à nossa disposição recursos infinitos para qualquer área, basta saber selecionar os mais adequados e confiáveis. Visite blogs literários, comente, compartilhe informação, faça amigos. Essa é uma área em que, mais do que em outras, ninguém vai muito longe sozinho. Seja ativo!
Sucesso!
Marcos Antônio Aparecido dos Santos
12 de fevereiro de 2014 at 19:52 //
Muito instrutiva a reportagem, pois, afinal, acabo de publicar minha primeira obra, escrita por dois anos, via web. De fato, os percalços são gigantescos, e ainda que a tecnologia tenha contribuído para diminuí-los, o artista independente encontra dificuldades como qualquer outro.
As dicas sobre participar de blogs tematizados e promover-se com sites são válidas, para quem de fato se debruça diante, hoje, principalmente da tela do computador.
Ronize Aline
13 de fevereiro de 2014 at 17:05 //
Olá, Marcos Antônio. Que bom que você gostou das dicas. É isso aí, as dificuldades existem mas estamos aí para superá-las.
Abraços,
Ronize Aline
Y.N. Daniel
13 de fevereiro de 2014 at 20:42 //
Ótima entrevista.
As dificuldades para quem escreve são quase infinitas, mas há também a delícia de criar algo do nada. Sentir-se um pouco Deus.
🙂